A escola e a complexa tarefa de ensinar e educar para a vida


Educar realmente não é uma tarefa fácil, principalmente quando a escola se propõe a trabalhar no sentido de desenvolver a consciência crítica, o pensamento esclarecedor. Primeiro, pelo fato de se tornar cada vez mais difícil saber como o mundo realmente é, principalmente diante da complexidade da modernidade e, segundo, pelo fato de a escola, atualmente, buscar estabelecer uma relação cada vez mais coerente entre conteúdos, conceitos, aprendizagens e a arte de viver.
 
Como diz Hanna Arendt: "Não se pode educar sem ao mesmo tempo ensinar; uma educação sem aprendizagem é vazia e, portanto, degenera, com muita facilidade, em retórica moral e emocional. É muito fácil, porém, ensinar sem educar, e pode-se aprender durante o dia todo sem por isso ser educado". A autora sinaliza que há diferenças pontuais entre o ato de ensinar e educar. Refere-se ao educar como sendo o ato de ensinar valores, posturas, princípios à criança para que se torne respeitosa, solidária, "bem educada" socialmente, enquanto a função de ensinar é a de socializar conteúdos, conceitos para que as crianças aprendam e se desenvolvam intelectualmente.

Ao responderam a pergunta sobre a função da escola no mundo atual, os pais de alunos que entrevistei apontaram questões semelhantes. Um deles disse: "A escola serve para alfabetizar, mas não para educar. A escola é ótima para ensinar a matéria. A escola hoje em dia teria que ser mais rigorosa para que a criança entenda mais como é se comportar na vida". Uma mãe assim se manifestou: "Eu acho que é o aprendizado, a educação e as boas maneiras".

Os pais também reclamaram da falta de participação na escola. Talvez a dificuldade de alcançar a melhor forma de fazer educação, de estabelecer uma relação mais harmoniosa entre alunos e professores, conteúdos, aprendizados e a arte de viver, esteja relacionada ao fato de a escola possuir "uma tendência imanente a se estabelecer como esfera da própria vida e dotada de legislação própria", como aponta o autor alemão Theodor Adorno. Os conteúdos, os processos e os métodos de ensino muitas vezes são abordados como algo externo à atividade humana, ou pior, à vida humana.
 
O fato de a escola ter se construído como um espaço fechado, tanto na forma de atuar, na maioria das vezes, quanto com seus muros altos ao redor, representa mais uma necessidade do que uma virtude, pois ela não se constitui num fim em si mesma. A dinâmica da escola não pode ser reduzida a problemas de administração, gestão e controle, pois ela está inserida na dinâmica da vida e, como tal, em um contexto muito maior, ou seja, político, econômico, cultural e social. Esta postura de se fechar em si mesma pode ter afastado os próprios pais dos alunos do ambiente escolar. Conforme Theodor Adorno, "certamente, na medida em que as pessoas da escola não permitem interferências, o fechamento da escola sempre tende a se enrijecer, sobretudo face à crítica".
 
Para mudar este quadro, seria necessário eliminar qualquer limitação e obstáculos ainda existentes na realidade e que dão suporte aos tabus com que se cercou o papel dos professores, o magistério e a própria escola. É necessário partir para a reflexão, a conscientização e o esclarecimento aos professores, pais e comunidade, sobre este estado de coisas que nos impregna e nos constitui, e que, muitas vezes, nos impede de avançar, ousar, inovar em métodos, conteúdos e formas de atuar na escola e na arte de viver.


Fonte: http://www.clicatribuna.com/artigo/a-escola-e-a-complexa-tarefa-de-ensinar-e-educar-para-a-vida-57551