Indisciplina: de quem é a culpa?



Professores reclamam da falta de limites dos alunos que, por sua vez, cobram aulas mais interessantes

Há um mal-estar pairando sobre o trabalho dos profissionais da educação. A crescente indisciplina está causando falta de credibilidade na instituição escolar, desgastando sua imagem e, como conseqüência, levando junto a imagem dos professores. Não há como negar que eles não são mais vistos como autoridades em sala de aula. Em escolas particulares essa imagem se desfez diante da relação de clientelismo. Nas públicas, a indisciplina reflete diretamente os problemas da comunidade onde está localizada.

Enquanto os alunos querem aulas que tenham mais relação com a realidade, os professores reclamam da falta de limites do alunado. Segundo os educadores, os estudantes não sabem ouvir, não respeitam a vez de falar, não obedecem ordens, não respeitam as normas mais básicas de convivência. "Já passei por uma turma onde dar aula era uma verdadeira guerra, um campo de batalha diário onde eu precisava sobreviver", lembra a professora do Ensino Médio, Regina Paz.

A reportagem do Diário do Estudante conversou com um grupo de alunos da 8ª série de uma escola particular do Grande Recife para descobrir o motivo de tanta rebeldia em sala de aula. Eles se justificam criticando a metodologia à qual são submetidos. "Os professores deveriam relacionar a matéria com algum assunto de interesse nosso e procurar dar aulas que encorajem a prestar atenção", comenta o aluno Gustavo Nasi, 14 anos. Apesar de também participar de algumas brincadeiras fora de hora, o aluno confessa que tem consciência do prejuízo. "O professor perde tempo para controlar a bagunça e acaba dando o assunto de forma mais rápida e menos explicativa", completa ele. Tomás Cavalcanti, também do mesmo colégio, reconhece que com a indisciplina os estudantes saem perdendo. "Como eu, outros alunos não têm tempo para estudar em casa. O aprendizado fica concentrado na sala de aula, e com essa perda, nós nos prejudicamos", diz ele.

Família - A ausência da família é apontada por psicólogos como fato que pode estar relacionado com a conduta dos estudantes. Segundo eles, com as longas jornadas de trabalho, pai e mãe passaram a ter tempo reduzido para os filhos. A conseqüência disso é o prejuízo para a educação. "A função de educar acaba sendo repassada para a escola", afirma a psicóloga Cláudia Queiroz. Apesar dessa realidade, não são raros os responsáveis que acham exageradas as exigências escolares e as punições impostas aos indisciplinados.

"Além da ausência familiar, este fenômeno também está relacionado a mudanças de valores da sociedade, onde o jovem inserido neste contexto tem manifestado um comportamento que requer a nossa atenção", diz a psicóloga Eliara Miranda. Este comportamento é definido por atos de rebeldia, ausência de limites, agressividade, compondo representações claras da indisciplina, que é vista por especialistas da área de Psicologia como um "grito" do jovem em busca de atenção.

"Na minha época, minha família ficava reunida na hora do jantar. Os pais tinham tempo para falar com seus filhos e essa relação humana ajudava muito a amenizar os dramas dos jovens. Hoje, muitas famílias se resumem a um grupo de pessoas que moram na mesma casa", afirma o secretário estadual de Educação, Mozart Neves.

A psicóloga Cláudia Queiroz acredita que para solucionar o problema de indisciplina nas escolas é preciso mais diálogo. "Deve-se estabelecer um contato entre escola, família e professores para a compreensão das normas da instituição. Só assim os valores, direitos e deveres serão reconhecidos", explica ela.


Fonte: http://www.diariodepernambuco.com.br/assinantes/acesso.asp?preURL=/diario/2005/08/11/especial9_0.asp